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Luria ( 2010) coloca que para a criança escrever duas condições devem ser preenchidas. Uma delas é a relação que a criança tem com os elementos que estão ao seu redor, sua relação com os brinquedos e o papel que os objetos possuem para ela. A outra condição é que a criança tem que ser capaz de controlar seu próprio comportamento. Incluindo os objetos e sua funcionalidade.
Desde a pré-história, o homem já arrisca a escrita e quando uma criança pega um lápis começa a fazer rabiscos e dá significado a eles.
De fato surpreendente, uma criança de 2 anos começa a escrever e quando você pergunta ela precisamente responde: “mamãe/papai”.
Ainda há aquelas crianças que vão falando enquanto escreve, de forma primitiva.

Processo de evolução da escrita

Durante o processo de evolução da escrita pode-se destacar aspectos conceituais e momentos importantes que o professor possa acompanhar cada evolução e cada etapa.
a) A criança inicia representando o sistema de escrita nas tentativas de comunicação seja por meio de desenhos ou garatujas. Quando ela acredita que escreve (garatujas), muitas vezes, vai falando em voz alta suas frases ou até histórias, mesmo que a escrita convencional seja incompreensível. A garatuja é uma “escrita” rápida que acompanha a fala oral da criança.
b) Em seguida, a criança começa a colocar letras para compor as palavras. E, na maioria das vezes, não aceita menos de 3 letras para representar as palavras. Quando o professor pede que escreva uma palavra, a criança fica incomodada quando não sabe.
c) Quando a criança começa a fazer uma relação entre o grafema / fonema e já faz uma representação sonora ela consegue perceber a função realmente da escrita como fator de comunicação,

Segundo, Castedo (2000), não é adequado colocar as crianças de forma homogênea para a construção de escrita para desenvolver atividades. A autora propõe algumas sugestões de intervenções para formar leitores críticos.

“1) Propor problemas para as crianças para cuja solução não tenham todos os conhecimentos nem todas as estratégias para poder resolvê-los totalmente. Somente dessa maneira é que sua resolução gera a necessidade de coordenar ou dar novo significado aos conhecimentos anteriores, construir novos conhecimentos e desenvolver estratégias.
2) Organizar projetos e situações nos quais a leitura apareça contextualizada em alguma prática existente em nossa cultura.
3) Dar oportunidades para se aproximarem e transformarem interpretações diversas de um mesmo texto, retomando-as a partir das interpretações de outros, de outras leituras, outras experiências que contradigam ou enriqueçam suas interpretações iniciais.
4) Gerar situações nas quais seja necessário que as crianças explicitem suas interpretações, confrontem-nas e elaborem outras cada vez mais compartilhadas.”
http://antigositebolsa.fde.sp.gov.br/rodada4/apoio/Texto%20Mirta%20-%20Grupo%20Tematizatpo-Cris.pdf. Acesso em: 04/03/2019.

O processo de intervenção de escrita deve ser bem planejado pelo professor, pois atividades em duplas são bem-vindas desde que haja diferentes tarefas que atendam às necessidades das crianças nas hipóteses e nos avanços.
Propor atividades em dupla entre uma criança alfabética e outra que está na fase pré-silábica irá gerar problemas de socialização e intervenção e não haverá avanços em ambas.
Segundo Vygotsky há duas zonas de desenvolvimento importantes para a aprendizagem:
• Zona de desenvolvimento potencial, onde há interação com o outro e a aprendizagem acontece com esta interação.
• Zona de desenvolvimento real: onde a aprendizagem acontece de forma individual.

A distância entre o desenvolvimento potencial e o real é nomeado de zona de desenvolvimento proximal, é neste ponto que percebemos o quanto a criança já sabe e o quanto é necessário ainda conquistar para que possa realizar com autonomia uma tarefa.

“ O que a criança pode fazer hoje com auxílio dos adultos poderá fazê-lo amanhã por si só. A área de desenvolvimento potencial permite-nos, pois determinar os futuros passos da criança e a dinâmica do seu desenvolvimento e examinar não só o que o desenvolvimento já produziu, mas também o que produzirá no processo de maturação.(…). Portanto, o estado do desenvolvimento mental da criança só pode ser determinado referindo-se pelo menos a dois níveis: o nível de desenvolvimento efetivo e área de desenvolvimento potencial” (texto original de Vygotsky, in Rego, 1994, p.126)

Desta forma, o professor exerce papel fundamental no processo de aquisição da linguagem escrita, pois ele cria possibilidades de interação com as crianças, através de uma mediação e organização de estratégias mais eficientes.
É preciso desmistificar que a criança escreve, mas não lê. Muitas crianças apenas copiam as palavras do quadro, mas não sabem o significado destas. Este aspecto confunde-se e as famílias e professores acreditam que a criança está alfabética.
Portanto, dentro de um processo de alfabetização, as atividades diagnósticas e as interferências do professor farão com que a criança avance e consiga atingir a zona de desenvolvimento real, nomeada por Vygostky.


( texto extraído do livro: Alfabetização e Psicomotricidade, Renata Aguilar)

 

Autora: RENATA AGUILAR. Mestre em Intervenção Psicológica do Desenvolvimento, Neuropsicopedagoga com Extensão em Neuropsicologia. Psicopedagoga, Especialista em gestão e administração escolar. Graduada em Ed. Física e Pedagogia. Especialista em alfabetização e Matemática. Professora e Coordenadora Pedagógica. Autora de livros na área da educação , entre eles: Neurociência aplicada à Educação e Metodologias Ativas e Educação 5.0.

Obs. O texto não pode ser reproduzido sem menção do nome da autora de acordo com a lei Lei de Direitos Autorais – Lei 9610/98.

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